segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

ANATOMIA DE UM CRIME

Não deveria ser necessário ratificar esse tipo de coisa!

Estupro não é sexo

"Infelizmente ser biscate não é só assumir o controle dos seus desejos e corpo, porque o mundo, machista como é, insiste em não apenas ignorar nossa atitude como insiste também em tentar controlar nossos corpos, desejo e prazer. E o faz através da maneira mais cruel e perversa, e que atinge tanto biscates quanto mulheres incríveis, da violência. E como o assunto do momento é o estupro de uma “biscate”, é sobre isso que precisamos falar.

Estupro não é sexo. Estupro não é uma vontade incontrolável de dar prazer à outra pessoa mesmo que ela não saiba que quer muito isso. Estupro não é um favor, não é um acidente, não é uma empolgação. Estupro é uma violência que decorre de uma relação de poder. No estupro, aproveita-se da vulnerabilidade do outro.
Precisa de exemplo? Apontar a arma pra uma pessoa na rua a deixa vulnerável. Bater numa pessoa a deixa vulnerável. Ameaçar o emprego, a família, os amigos a deixa vulnerável. Estar bêbada, dormindo, drogada, é estar vulnerável. Aproveitar-se de relações de trabalho ou familiares pra forçar sexo é aproveitar-se de vulnerabilidade. Não importa se é um marido, namorado, colega, amigo, vizinho, desconhecido, não importa o grau de intimidade e confiança… Tocar, se esfregar, penetrar, inserir objetos no corpo da outra pessoa sem que ela deseje isso e consinta explicitamente sem coação de nenhuma ordem, É VIOLÊNCIA.
Entenda: estupro não tem atenuante. Mulher pode gostar de sexo, de beber, usar roupas provocantes e se divertir e isso não dá a ninguém o direito de estuprá-la. Vamos desenhar, atenção: Não é porque ela estava bêbada que pode estuprar. Não é porque ela estava na rua sozinha depois das 22hs que pode estuprar. Não é porque ela estava com um grande decote, saia curta ou maquiada que pode estuprar. Não é porque ela é prostituta que pode estuprar. Não é porque ela dá pra todo mundo que tem que dar prá você também. Não é porque ela é gostosa que pode estuprar. Não é porque ela dança de forma provocante que pode estuprar. Não é porque ela é “feia” e nunca ia arrumar namorado que pode estuprar. Não é porque ela concordou em conhecer sua coleção de figurinhas de jogadores das seleções asiáticas de futebol que pode estuprar. Não é porque ela se deitou com você e ficou trocando carícias embaixo do edredom que pode estuprar. Não pode usar força, não pode insistir com ameaças, não pode se aproveitar que a pessoa dormiu, não pode chantagear.NÃO PODE ESTUPRAR!
Quando alguém diz não, significa exatamente isso: NÃO. Não importa o que ela “quer dizer”, importa o que ela efetivamente disse. E se a pessoa está desacordada, bêbada, drogada ou sonolenta e não tem condições de dizer sim ou não, saiba: é sempre não. Se a pessoa não pode decidir, guarde a viola no saco (guarde o pinto dentro da cueca) e espere outro momento.
Para os que se perguntam se a responsabilidade não é dos dois, um esclarecimento: a culpa de ser estuprada não é da vítima. Não, ela não provocou. Ela tem o direito de vestir o que quiser, de beber o quanto quiser, de dançar, sorrir, beijar e decidir não fazer sexo. O corpo dela não é brinquedo. Ela é uma pessoa, com liberdade e direitos. Essa é a parte que o moralismo parece esquecer. As mulheres são sujeitos e têm direitos. As mulheres não estão no mundo para provocar ou satisfazer os homens. Estão por aqui pra ser felizes, tal como eles. Antes de apontar o dedo e afirmar que ela mereceu a violência sofrida, é bom pensar que os agressores não são previsíveis. Estupra-se criança, idosas, estupra-se mulheres cobertas da cabeça aos pés, estupra-se homens, meninos, estupra-se freiras e prostitutas. Estupra-se mulheres que bebem e estupra-se as abstêmias. Porque sempre a culpa é da mulher? Porque é tão mais fácil dizer que ela deu sopa, que “pediu por isso”, que “fez por onde”? Não é o “dar sopa”, ser biscate, estar bêbada ou “a mão” que a torna alvo do estupro. Homens estupram porque acham que podem, que têm esse direito, que o mundo lhes serve. É relação de poder, pura e simples.
Então, você mulher “direita” que está aí se dando o direito de julgar e apontar o dedo para a “biscate” e dizer que “ela pediu”, “mereceu” ou no mínimo que “aguente as consequências dos SEUS atos” (como se ela tivesse escolhido ser estuprada), saiba que você não está a salvo de um estupro e toda a sua “direitice” e moralismo não irão te salvar na hora em que algum homem te olhar e achar que pode se satisfazer no teu corpo mesmo contra a tua vontade. Porque a violência contra a mulher é ampla e democrática, não julga comportamento, idade, cor, profissão, classe social, origem."
"Não são as mulheres que precisam aprender a evitar e se prevenir contra estupros, são os homens que precisam aprender que não podem estuprar."

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

PURO

Eu gosto
É belo. É puro. É sagrado.
É desejo incansável de alma leve.
É puro. É desejo. É sagrado, e eu gosto.
Gosto de me ver, de me sentir...
Senti?
Eu gosto, eu gozo,
e é puro, e é sagrado, e é inteiro...
Eu sou minha, a alma é leve, a alma é livre.
É puro, é um rio profundo.

SECO

Seco. Árido. Queimando.
Expulsa pelos pêlos a fumaça negra.
A pele racha.
O sangue se arrasta denso e lento no corpo fechado.

Nada mais dói.
Só a cabeça.
Pulsa.
Pensa.
Nunca pausa.
Esperando uma tempestade que nunca vai acontecer.

Falta tudo.
Nada serve.
Nem chuva em tarde de verão.
Nem banho em solidão escrava.

Água na pele como água no vidro.
Bate.
Nada absorve.
Nada modifica.

Seco.
A pele racha.
Não limpa.
Não minha.
Não sua.
Não transpira.

Sangue compressa
Corte Seco.
Meio da cabeça até a planta do pé.
Sangue com pressa
Fluído. Pelo ralo.
Do coração pro ralo.
Do chuveiro pra cicatriz.
Água na cicatriz. Talvez doa.
Menos seco?

Não dói.
Seco.
Sem Vinho.
Sem sangue.
Sem corte.
Seco.

Não dói.
O cuidado com tudo.
Tudo na hora certa – Assim não dói –
Tudo no lugar – Assim não dói –
Tudo programado.
Tudo seco.
Árido. Não dói.
Planejado.
Burocrático. Nada dói.
Protegido.
Seco. Não dói.

Árido, queimando fora.
Expulsa pelo sangue o gozo parado.
A pele pelo pêlo.
Fumaça de sauna seca.
Nada mais dói.
Seco.

Talvez.
Uma lágrima.
Só.
Rolando sincera e doída.
Só uma.
E uma dor. Verdadeira e latejante.
Menos Seco.
Viver uma vez a derrota. A morte.

Nem tanto.
Talvez manha com machucado bobo.
Choro doído de horas por um falso amor adolescente.
Dor legítima.
Casar quatro vezes. Todas por amor.
Rir sem motivo, de coisas sem sentido.
Beber feito apaixonada.
Acelerar sem o medo do sopro.
Correr, tropeçar.
Amar feito vadia viciada.
Correr, poste.
Parar.
Gozar dentro. Várias vezes.
Qualquer coisa menos seca.

Segue.
Senti?
Seco.

Seco. Árido. Queimando por dentro.
Expulsa a fumaça negra pelos pêlos.
A pele se arrasta, densa e lenta.
O sangue racha no corpo fechado.

SEM CHÃO

Pés em chão de nuvens. Mãos segurando cordas sem fim atadas ao céu. E se me atirasse agora na terra? Será que ainda conseguiria tocar o chão? Caminho sem chão. E continuo olhando o horizonte, e continuo subindo nessa corda... E quando chegar às estrelas aonde ela esta amarrada, vou, enfim, chegar ao meu país. Mas, enquanto essa corda for infinita... Não sou a chegada. Não sou o regresso. Ainda sou o caminho.