sábado, 28 de abril de 2012

ANATOMIA DAS PAIXÕES INFLAMADAS


Agora entendi tudo!
Veja bem, quando diziam "paixões inflamadas", sempre me vinha na cabeça uma fogueira alta, vários galões de gasolina... shuapt, boom... Cores vermelhas estalando...
Agora entendi que a foto é outra: "paixões inflamadas" é um como um dente do siso em pré operatório. Doente, cheio de pus, saliva grossa, e que deve ser tirado de vc, antes que adoeça a boca toda, é tudo molenga, mal cheiroso e de cor amarela creme.
Talvez esse tenha sido o meu problema a vida inteira, a maldita da imagética. 

ANATOMIA DA INTIMIDADE


E depois que todas as lágrimas caírem. E depois que todos os espelhos quebrarem? Minha intimidade é dislexa como os espelhos. Como o delta de um rio. Minha intimidade se esconde na camada mais densa da pintura, na raiz mais profunda, no silêncio mais fundo de uma pausa... Minha intimidade é um espelho denso onde se revela uma vontade desesperada de mergulhar dentro de mim mesmo, e outra vontade agonizante de nunca mais sentir essa solidão atroz. Mesmo assim, eu só tenho pra oferecer essa intimidade vazia e branda, como poças d’água depois da chuva. Esse é meu jeito de tentar entender o mudo diálogo dos espelhos. E o que vai restar (de mim), depois que todas as lágrimas caírem, e depois que todos os espelhos quebrarem?

ANATOMIA DO QUASE AMOR


Me deu sorrisos, aventuras
Me mostrou Nina Simone
E num surto de si mesmo, partiu.

ANATOMIA DA INADEQUAÇÃO



Amarrada a corda errada.
Quase sempre deslocada
E sempre ocupando mais espaço que o normal
Cada vez mais estrangeira, estrangeira em qualquer lugar.
Mais estrangeira...
Menos face.
Sem face. Compraria uma. Usaria de bom grado.
Uma paz. Identidade. Passaporte.
Mas, aqui.
Presa a uma corda, com um nó que eu mesma dei.
Agindo como culpada, cúmplice, marginal.
Agindo como culpada mesmo sem saber o que realmente é a culpa.
Amarrada a uma corda por um nó que não sei mais desatar
Garganta seca da poeira dessa terra que nunca foi minha.
Mesmo que minha bolsa tenha arranhado esse calcário frio.
Nada aqui me reflete, nada aqui me acarinha.
Dessa mãe rígida, que deixa os filhos sem face escorrerem perna abaixo.
Amarrada a uma corda emaranhada
Feito gata na lã, me divirto no meu próprio embaraço
Palhaço em fim de festa de criança mimada.
Equilibrada pelos calcanhares, feito louco de cartomante
Amarrada feito Judas em dia santo.
Inadequada