sábado, 5 de maio de 2012

ANATOMIA DAS PAIXÕES INFLAMADAS II


Já saturada de "paixões inflamadas", fui naquela que destrói dentes excedentes e extrai o siso. Como desde muito pequena sempre fui muito dramática tirei os quatro apaixonados de uma vez só. E nessa descobri que a ausência dói mais que aquela maldita presença inflamada. Os outros dentes estranharam bastante, com o espaço de sobra e sem as distrações, ingenuamente imaginei que tudo ficaria bem, que aquela dor do C#$%LHO finalmente se dissiparia, afinal, literalmente tirei o mal pela raiz. Mas por algum erro de calculo e uma exagerada ingenuidade descobri que a dor piorou exatos mil por cento e os dentes que ficaram estão completamente desnorteado, alguns deles acham que na verdade são eles próprios que doem. Os pobrezinhos tomaram pra si o problema, mas de diversas formas. O meu pré molar por exemplo, tem certeza que está com uma cárie, ele sente dor, o vazio e aquela sensação de ventinho, passo a escova pra mostrar que não tem vazio nenhum, mas mesmo assim ele só dói. Os caninos estão angustiados, é só encostrar que eles dão choque, não sabem bem porque, mas o fazem. O incisivo superior deu pra relembrar do dente de leite que veio antes dele, um saudosismo exacerbado , fica redizendo como era bom ter alguém na linha de frente, que na verdade ele nunca quis pra ele esse titulo de "Incisivo Superior Permanente", por ele o de leite seria o definitivo. Tentei explicar que agora ele é um dente adulto e independente, que já faz tempo  que o de leite não esta mais lá, que é preciso superar, e que esse é o processo natural... mas não adianta, o incisivo não nota que joga no de leite a falta que o siso faz. Mas a reação do molar inferior me impressionou muito, o esquerdo no caso, que o direito esta numa depressão que nem te conto. O molar inferior esquerdo deu pra trabalhar 24 horas por dia, qualquer coisinha que possa mastigar, ele mastiga, acho que se colocar um prego ali, ele da um jeito de engolir. Ele acha que trabalhando feito um condenado vai esquecer de tudo que incomoda e machuca. Esses dentes que fingem que nada aconteceu, são os que eu mais me preocupam. Nunca entendi como as ausências se fazem tão presentes.

ANATOMIA DO APERTADO


Acordei com a certeza que o mundo é pequeno. O tempo passa e eu descubro que nada mais é mistério. Sufocada, nesse mundo todo que parece conhecer todo mundo. Conhece. Ou ouviu falar, uma historinha pra contar. Gostava mais quando era misterioso, quando imaginava que aquilo existia só pra mim. Quando a minha solidão era menos complexa e as minhas dores mais distantes. Achava que o mundo era Poema de Sete Faces, mas vejo que é Quadrilha. Bom, dos males o pior, pelo menos o mundo ainda é Drummond.