sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

SECO

Seco. Árido. Queimando.
Expulsa pelos pêlos a fumaça negra.
A pele racha.
O sangue se arrasta denso e lento no corpo fechado.

Nada mais dói.
Só a cabeça.
Pulsa.
Pensa.
Nunca pausa.
Esperando uma tempestade que nunca vai acontecer.

Falta tudo.
Nada serve.
Nem chuva em tarde de verão.
Nem banho em solidão escrava.

Água na pele como água no vidro.
Bate.
Nada absorve.
Nada modifica.

Seco.
A pele racha.
Não limpa.
Não minha.
Não sua.
Não transpira.

Sangue compressa
Corte Seco.
Meio da cabeça até a planta do pé.
Sangue com pressa
Fluído. Pelo ralo.
Do coração pro ralo.
Do chuveiro pra cicatriz.
Água na cicatriz. Talvez doa.
Menos seco?

Não dói.
Seco.
Sem Vinho.
Sem sangue.
Sem corte.
Seco.

Não dói.
O cuidado com tudo.
Tudo na hora certa – Assim não dói –
Tudo no lugar – Assim não dói –
Tudo programado.
Tudo seco.
Árido. Não dói.
Planejado.
Burocrático. Nada dói.
Protegido.
Seco. Não dói.

Árido, queimando fora.
Expulsa pelo sangue o gozo parado.
A pele pelo pêlo.
Fumaça de sauna seca.
Nada mais dói.
Seco.

Talvez.
Uma lágrima.
Só.
Rolando sincera e doída.
Só uma.
E uma dor. Verdadeira e latejante.
Menos Seco.
Viver uma vez a derrota. A morte.

Nem tanto.
Talvez manha com machucado bobo.
Choro doído de horas por um falso amor adolescente.
Dor legítima.
Casar quatro vezes. Todas por amor.
Rir sem motivo, de coisas sem sentido.
Beber feito apaixonada.
Acelerar sem o medo do sopro.
Correr, tropeçar.
Amar feito vadia viciada.
Correr, poste.
Parar.
Gozar dentro. Várias vezes.
Qualquer coisa menos seca.

Segue.
Senti?
Seco.

Seco. Árido. Queimando por dentro.
Expulsa a fumaça negra pelos pêlos.
A pele se arrasta, densa e lenta.
O sangue racha no corpo fechado.

Um comentário:

Quickstrike disse...

Falta tudo.
Nada serve.

Gostei disso.

Planejado não precisa ser, necessárimente, burocrático. Precisa?